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CORREIO DOS AÇORES

06 MAR 2022

Portugal

António Pedro Costa

Entrevista

“A música tem um lado muito terapêutico”, assume o músico e compositor Nuno Cabral


Correio dos Açores: Lançou recentemente um original. Quem foram os produtores da sua edição?

Nuno Cabral: Este último tema, “Bittersweet Track”, faz parte de um grupo de 4 temas originais que foram todos gravados nos Nordela Studios, em Ponta Delgada, com a produção, gravação, mistura e masterização a cargo de Cristóvão Ferreira. Permitam-me ainda nomear os músicos que me acompanharam neste projeto: Paulo Fonseca (bateria), Nuno Pacheco (baixo), Vasco Cabral (guitarra eléctrica) e Cristóvão Ferreira (teclados e sintetizadores).


Tem outros trabalhos em preparação para lançar?

Ao longo de 2021 lancei, faseadamente, os três primeiros temas (“Rush”, “This Love” e “Bitters weet Track”) e no próximo dia 18 de Março será lançado o último tema gravado em estúdio, com o título “Last Memory”.


Onde se inspirou para este trabalho?

Os temas que constituem este trabalho foram seleccionados a partir de um universo de músicas que tenho vindo a escrever nos últimos anos. A composição é algo relativamente recente na minha vida e acho que este trabalho ainda espelha muito a tentativa de perceber quem sou enquanto músico-compositor. Não consigo encontrar uma inspiração bem vincada mas apercebo-me que está muito relacionada com a minha história e o meu dia-a-dia. É muito mais fácil e genuíno escrever sobre aquilo que conheço e que vivi. Não sendo necessariamente auto-biográfico, reflete as minhas vivências e pensamentos.


Quando foi lançado o “Bittersweet Track”?

O seu lançamento ocorreu a 1 de Outubro de 2021, Dia Mundial da Música. No entanto, só no passado dia 13 de Fevereiro é que lancei o respectivo vídeo oficial no YouTube que, à semelhança dos restantes, foi totalmente idealizado e realizado por mim.


Onde se poderá encontrar este trabalho?

Todos os temas estão disponíveis nas mais variadas plataformas de streaming como o Spotify, You Tube, Apple Music, Deezer, Tidal, entre outros. Também podem visitar o meu website que resume toda a informação existente sobre o meu percurso musical.


Quais os temas que mais gostou de compor?

Essa é uma avaliação difícil, até porque os temas gravados são muito diferentes entre si. Há um prazer inerente à composição que é muito similar em todos os temas que escrevo. Depois, finalizado esse processo, existem, naturalmente, músicas que me agradam mais do que outras. Tentando responder directamente à sua pergunta, destes temas talvez escolha o single de estreia “Rush”, pela sua energia e riqueza instrumental, e o tema “Last Memory”, pela sua simplicidade e melancolia.


O que o levou a deixar os covers e lançar-se na produção musical?

Foi um processo natural de evolução. Os covers foram uma escola importante mas o sonho de conseguir compor as minhas próprias músicas esteve sempre presente. A partir de um determinado momento o trabalho desenvolvido com a banda de covers deixou de ser desafiante e a composição surgiu como o passo seguinte.


Qual a relação com a banda Undercover?

Trago desse tempo uma amizade muito boa. Os Undercover terminaram precisamente na sequência da minha resposta anterior. Apercebemo-nos que era hora de guardar as boas memórias e de procurar novos desafios. Todavia, se algum dos três baixistas que passaram pela banda estiver de passagem por S. Miguel (vivem todos fora), há sempre hipótese de fazermos um concerto para matar saudades. Já o fizemos uma vez e, especialmente depois destes últimos 2 anos, há muita vontade de repetir.


Que significado tem para ti o festival Jardim Fest?

O Jardim Fest é um lugar muito especial para mim porque foi lá que, em 2015, apresentei pela primeira vez ao vivo a minha música, com dois temas originais. Entretanto, tive a oportunidade de voltar em 2019, desta vez acompanhado pelo meu amigo Vasco Cabral, com um alinhamento inteiramente composto por temas originais. Por tudo isto tenho de agradecer à organização do festival, em especial ao Filipe Mota, pela aposta num músico cujo trabalho como compositor era completamente desconhecido até então.


Como foi a participação no festival Tremor?

Memorável. O Tremor tem uma energia e mística muito singulares e poder fazer parte do mesmo foi absolutamente gratificante. Eu sabia que o festival tem um público muito atento e curioso e, por este motivo, lembro-me de sentir um nervoso miudinho como há muito não sentia. A sala do 3/4 Hostel completamente cheia e a forma como fui acarinhado pelo público são memórias inesquecíveis. O destaque que tive por esta participação possibilitou-me depois chegar a novos palcos.


Conte-nos como foi acompanhar David Fonseca no palco do Teatro Micaelense.

Esta história é fruto de um mero acaso sem qualquer tipo de meritocracia. O David Fonseca perguntou se alguém sabia cantar a música “Borrow” dos Silence 4. Eu fui apenas o mais rápido a levantar o braço e, por isso, o escolhido. Para mim tem um significado especial pela ligação que tenho enquanto fã do David Fonseca e dos Silence 4. O seu álbum de estreia (“Silence Becomes It”) foi o primeiro que comprei após entrar na faculdade e tornou-se no capítulo 1 da banda sonora dessa nova fase da minha vida. Ouvi-o vezes sem conta e sabia tocá-lo na guitarra da primeira à última faixa. Era inimaginável que daí a quase 20 anos estivesse a cantar e partilhar o palco com o próprio David Fonseca. Após o concerto ainda tivemos uma conversa muito agradável nos bastidores do teatro, onde me contou diversas histórias e curiosidades sobre os tempos dos Silence 4.


Quem são as tuas referências musicais?

Penso sobre isso várias vezes e nunca chego a uma resposta objectiva... Oiço artistas e bandas de estilos muito variados que, certamente, terão a sua influência em mim, embora eu não consiga identificar concretamente de que forma. Na minha lista de favoritos figuram nomes como os Beatles, Jorge Palma, Manuel Cruz, Radiohead, Dave Matthews Band, John Mayer ou Jamie Cullum. No entanto, seria pretensioso da minha parte comparar-me ou achar que a minha música se assemelha com algum deles.


Esta pandemia tem dificultado a sua carreira de músico?

Quando a pandemia chegou estávamos em estúdio a gravar e o processo já ia bastante avançado. Todos os instrumentos estavam gravados só faltando as vozes, ou seja, já se via uma luz ao fundo do túnel para o lançamento destas músicas. Com a pandemia fomos obrigados a adiar tudo e só voltamos ao estúdio cerca de 6 meses depois para finalizar todo o trabalho. O lançamento dos temas ocorreu faseadamente ao longo de um período marcado por um número muito reduzido de concertos. Deste modo, a avaliação a cada uma das músicas acabou por se revelar um pouco abstrata uma vez que se limitou, quase exclusivamente, às reações nas redes sociais e aos números de streamsem plataformas como o YouTube ou o Spotify. Agora que os temas já foram lançados, faz-me ainda mais falta o palco e a reação do público a cada música apresentada.


Desde quando está ligado à música?

Acho que esta ligação começa logo na infância, sentado no chão da sala durante horas a ouvir os discos de vinil do meu pai. Na adolescência tive aulas de guitarra durante cerca de 2 anos e, a partir daí, a aprendizagem passa por um processo essencialmente autodidacta. No entanto, só aos 27 anos é que comecei a encarar a música com maior seriedade, após a participação no Workshop de Voz e Orquestra do Hot Club Portugal no Teatro Micaelense. Durante uma semana tive aulas com professores e músicos fantásticos com os quais aprendi muito e que me incentivaram a seguir por este caminho.


Que projectos o esperam em 2022?

Não sou de fazer grandes planos e depois do que vivemos nos últimos dois anos, ainda menos... A única certeza que tenho é que a 18 de Março irei lançar mais um tema original, “Last Memory”. Depois disso, é tudo ainda uma grande incógnita mas já se vêem alguns espectáculos culturais a serem anunciados. Nesse sentido, gostava de fazer uma apresentação oficial com a banda completa e, posteriormente, levar o meu trabalho ao maior número de palcos possível. Adorava levar a minha música a outras ilhas dos Açores.


Quais os aspectos mais desafiantes da música?

Um dos principais desafios que tenho quando componho é ultrapassar os pensamentos quase bipolares que variam entre achar que o que estou a fazer poderá ser interessante e, dois minutos depois, achar que afinal não vale nada. Isto acontece frequente e ciclicamente... Para além disso, tenho outros dois desafios bem presentes: tentar não soar a algo já feito por outros e acreditar no que estou a criar. No âmbito global, hoje é muito mais fácil gravar uma música e conseguir que seja ouvida em todo o mundo logo após o seu lançamento. No entanto, como eu existem milhões de outros músicos a lançar as suas músicas. Para se ter uma ideia, o Spotify confirmou recentemente que, diariamente, são lançadas mais de 60.000 músicas na sua plataforma, é quase uma música por segundo. O desafio de conseguir sobressair e ter destaque é enorme.


Qual a maior paixão: cantor, compositor ou guitarrista?

Esta é uma avaliação difícil... Antes de mais, não consigo dissociar o cantor do guitarrista e, juntos, são a paixão mais antiga. Já a composição é muito mais recente mas descobri neste processo uma alegria e satisfação surpreendentes. É um exercício carregado de incertezas e, por isso, muito desafiante e prazeroso.


Em que medida a música moldou a perspectiva de ver o mundo?

A música, como qualquer outra forma de arte, conta histórias e desperta emoções que podem influenciar o modo como vejo o mundo, contudo, tem uma influência muito maior na minha vida e no meu bem-estar. A música tem uma capacidade incrível de me fazer viajar no tempo e no espaço. Desde criança que ouço música com auscultadores e isso permite-me isolar-me do que me rodeia e “mergulhar” em ambientes e locais, muitos deles criados apenas no meu imaginário. E tem também um lado muito terapêutico, sei exatamente a música que preciso ouvir consoante o meu estado de espírito.


Qual o sonho nesta carreira?

Não sou de grandes sonhos, costumo dizer que sou micro-ambicioso. Prefiro definir vários pequenos objectivos e depois ver onde me levam. Seria um sonho poder dedicar-me inteiramente à música e conseguir viver da mesma, mas até lá é muito importante ir apreciando a viagem.


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